Eu fumei. A seda era transparente e me deixava ver o fumo queimando.
Sensações, mãos tremidas, suor frio e quente.
As órbitas oculares faziam 360 graus descontinuadamente, fazendo com que tudo que eu visse se tornasse redondo.
A cor amarela explodia num contraste alucionógeno, e minha cabeça rodava.
Ficar em pé me levava à aparência de altismo, rodando em círculos parado sobre os pés apertados num All Star azul imundo.
Perdi o controle e caí sobre o puff, esparramando-me como uma borboleta sem força nas asas.
Fechei os olhos e o mundo era redondo. Meu coração era redondo, assim como meu mundo interior fugindo do exterior. Passei por Terras Médias, conversei com Cleópatra e senti-lhe o cheiro dos cabelos negros ensebados em alguma substância aromática.
Passei por entre fendas, engrenagens e vales que faziam com que um clipe do Sigur Rós se deparasse diante de minha pessoa.
Pude voar, descoordenado, o que fazia com que eu sentisse cada frio na barriga, cada salto, cada freada.
Seres mitológicos me salvavam, uma sombra me agarrou na sala abandonada e eu pude sentir seus braços delicados e receosos a me abraçar. Quando abri os olhos, as minhas pálpebras cerravam-se sozinha. Abrir os olhos exigia um esforço descomunal. Decidi fingir que o mundo estava pra mim como eu estava pra ele.
Impossível descrever. Descrever as mini-fadas que pousavam em meus cabelos cacheados ou os banhos de rio de água morna que tomei à margem do ribeirão. O cheiro de mato me acalmava. A grama crescia sobre mim como um cobertor.
Caleidoscópios formavam figuras jamais imaginadas, jamais inventadas e eu vi a forma geométrica impossível, jamais conseguida. Possuía cores incontáveis e formava o pulsar de algum órgão vital ao corpo, porque eu sabia que não poderia viver sem ela. Ela me movia. Me dava força vital pra continuar a respirar.
Viajei por castelos, passei por entre calabouços, soltei presos, vi nascer crianças. Observei pessoas chorando, recebi abraços, acalmei almas aflitas.
O amarelo do sol desabrochou de dentro de uma borboleta laranja. A morte para dar a vida. A troca do nascer pelo morrer.
Andei de bicicletas, vi a infância passar diante de meus olhos. A velhice me foi arrancada como que por feitiço. O presente me doía na carne ainda nova, porém cravada de experiências dolorosas. As cicatrizes hora se fechavam hora se abriam, e a cicatrização era sem morfina.
O abraço dele vem. Me encolho no puff, ouço a pizza chegar e os barulhos de talheres. Na imagem: sinos. Tilintam como mensageiros dos ventos, trazendo algo que eu não sei, porém sinto.
As mãos adormecem, porque recebem meu peso acima da cabeça. Sorrio dormindo. A felicidade era latente, vomitada em sons de humor fácil. Era fácil. Mais que fechar a cara diante do fim. Era acordar e rir. Mas eu sorria em silêncio, pois de onde estava, havia o silêncio.
O fim calmo de uma viagem sem fins, apenas pelo prazer de conhecer o desconhecido, descobrir o não-descoberto, amar vivendo.
Tão impossível quanto querer o fim.
2 comentários:
tu consegue lembrar de todas as viagens. incrível.
eu tenho todos as soluções do mundo e pra minha vida quando viajo com maconha! adoro.
pena que eu não lembro depois. haha
gente, eu jah to tão acostumada com essa maconha do gabu que eu soh consigo dar risada de tudo
sua viagem foi quase uma vida em um conto de fadas
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