16 junho 2007

Mastigando loucura

Saí esbaforido pela região do Jardins.
Algo me fazia querer correr. Não era só o atraso. Era o pensamento perdido em corpos, em frases, em vozes, em imaginações e cenas criadas do meu modo, do meu estilo, da minha neura.
Não preciso de algo além do que já temos para ser tudo. Embora eu sempre diga que até o tudo não é o suficiente. Pra mim parece isso. Porque o tudo ainda precisa de complemento. O complemento cabe em qualquer coisa. É um paradoxo entre o suficiente e o exagero, a satisfação e a gula, o caber e o transbordar.
Liguei o player alto. Os fones novos pareciam mini-caixas de som de uma balada romântica de domingo à noite. Decadente.
As músicas que eu amo me irritavam. A melodia romântica, os toques de piano, o dedilhar em cordas de violão me enlouquecia.
Queria algo gritante.
Queria Slash Dot Dash.
Queria tum tum tum.
Queria Snow Patrol. Queria Open your eyes.
Queria Sepultura, Ratos de Porão, queria o ápice, a rouquidão, a garganta esganiçada.
Queria Cínica, a voz gritante da Marcita ao invés de seu sorriso fofo fora do palco.
Queria gritos de metal, baterias em tambores, insanidades. A pressa me fazia agonizar, o atraso me fazia esticar as pernas mais do que eu poderia suportar. Não queria correr. Queria testar as pernas em sua elasticidade.
Mordo os lábios. A parte interna sangra. Acendo um cigarro. O sangue mancha o filtro e penso numa mancha de batom.
Pessoas no ponto de ônibus me olham. O calor me incomoda. Meus dedos suados mancham a lente dos óculos e não me importo em limpar.
Dou sinal para um ônibus qualquer. Pergunto pra onde vai e entro.
Passo aleatoriamente músicas que não me interessam. Quero o grito, a vibe, a raiva.
Sento. Esfrego as mãos uma na outra.
Toca We are the cientists. Finalmente uma música não romântica, não calma, um rock.
Não era bem o que queria, porém ajuda.
Me acalmo.
Efeito retardado inverso entre tantas coisas normais e certas.
Um dia a calmaria chega.
Espero.

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