11 agosto 2007

A doença e a cura

A comunhão espiritual me surpreendeu hoje, a cada sonho, a cada sinal. Não crio esperanças, não imagino cenas, não fantasio futuro.
Mentira!
Imagino tudo, pois a imaginação é a criação daquilo que a vida levou ou que ainda não trouxe.
Gostaria de fazer de mim algo que ainda não me tornei.
Cada pedaço de mim explode em um amor que não cabe.
Não é idealização, é personificação.
Não é perfeição, é saber que cada pedaço de defeito quebradiço faz parte dele.
E ele encontrou alguém.
Alguém o encontrou.
Um encontro aconteceu sabe-se lá como. Sabe-se lá onde. Não faz diferença agora.
Aconteceu.
E dói.
Muito.
Tenho medo porque meu amor cresce a cada novo.
E é difícil me encantar dessa forma.
Acho que um dia explodo. Amor demais vai me enchendo e fica o vazio.
É o paradoxo do sentir-se vazio quando se tem tudo, menos o que você realmente quer.
É ver a frase destinada e pensar se destino existe.
Qual o objetivo do deus irônico e traiçoeiro que brinca com nossas vidas, como bolinhas de gude de bolhas de sabão?
A explosão é inevitável e a transparência não me camufla nem por um segundo. Estou ali, sorrindo amarelamente por fora e corroendo por dentro.
Se alguém o descobrir, encontre. Encontre tudo aquilo que escavei em conversas longas que nem Clarice entenderia.
Como ela dizia, é preciso não esperar pelo milagre para ele acontecer.
Tudo aconteceu sem esperar, sem exigir, sem posses.
Mas agora só queria que fosse meu.
Não sei se encontraremos tamanha cumplicidade derretida a escorrer, transbordando, sem derramar.
Naquela fração de segundo que espuma como cerveja branca no copo pequeno e se inclina querendo beber tudo, sem perder nenhuma gota.
Nem do momento, nem dos sonhos, nem dos silêncios.
Nosso silêncio era sublime.
Dedos a se tocar, músicas a serem trocadas e tocadas, cigarros a serem fumados. Corrói saber.
Ele riria, choraria, aconselharia como alguém fez?
Entregar-se-ia da maneira platônica e voraz como me entreguei?
Quando dizem que quem ama deixa partir é mentira. Pura e deslavada.
Não é chegar no momento em que ele precisa, mas estar sempre ali para ele.
E quem está sempre ali, ama.
Então não amo, é isso?! Porra nenhuma!
Quero morder cada parte de meu corpo moribundo, de carne fétida e podre, para que os vergões formados pela dor anulem a dor que dói sem mordidas.
Sinto uma mordida de dentes afiados cravados nos órgãos vitais, em que cada espasmo de dor que dilata o órgão faz com que os dentes finquem cada vez mais, até atingir o centro da dor.
Mas a dor tornou-se generalizada, espalhou-se até pelos fios de cabelos rebeldes que se recusam a voar ao vento.
Petrificou tudo.
Mãos aleatórias tomam esse corpo que se entrega como estátua pública, exposta como peça rara sem valor.
Quem der mais, leva.
No leilão da vida, a testa franzida é como rachadura na obra de arte, uma arte em obras, inacabada, pois ainda não teve seu dono de forma pura, total.
Não me vi em alguém, não explodi em prazer de transe epifânico, não senti o silêncio dizer tudo aquilo que as palavras quebram. Não!
Acendo um cigarro com a bituca do outro que ainda queima. A fumaça me dói os pulmões. Começou a morte silenciosa e vagarosa, caminhando lentamente por entre as veias cheias de fumaça.
Não, não é o calor de meu corpo! Ele gela.
Como carne putrefata caindo em sono profundo, morrendo indefesa ao ouvir num sonho que fui roubado. Furtado, na verdade, porque não percebi que algo estava sendo roubado de mim.
Eu roubei o que me foi roubado, porque o objeto não quis ter um dono.
Hoje entrega-se facilmente, roubando-me um bem valioso, arrancando confissões dadas a mim com palavras singelas e sinceras.
O que não me cabe foi perdido. Perde-se tudo aquilo que acreditou um dia ter conquistado.
Minha lamúrias cobrem a imagem dos dois juntos, pois preciso prosseguir. Finjo não ver.
Porém, as imagens me vêm conforme as elimino da minha mente.
Deus brinca de Demônio.
Minha mente brinca de mentir.
Meu ódio brinca de ter amor.
As torturas psicossomaticamente filosóficas agregam coisas que me fazem fechar os olhos em testa franzida e inebriar-me ao abri-los novamente.
Tenho tonturas que nem palavras de amor do mundo me satisfazem.
É quando um mundo lhe ama e você precisa só de um, fazendo uma proporção impossível de ser aceita.
Uns com tão pouco e ele com apenas um.
Nessa fração de segundo, eu trocaria os muitos pelo UM.
As qualidades presentes numa única quantidade me calaria agora.
Meus dedos dóem, minhas costas dóem, meu cigarro queima enquanto meu pulmão reclama que está vazio, pois digito sem respirar.
E respirar me mostra que ainda estou vivo.

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