14 julho 2007

07:41 am

e a sensação de que
dormir
nunca mais vem
nem convém
nem há de


e ouvir interpol, como em dias doentes de 2004
o ano da dor
eu, jovenzinha
sofria
ah, sofria
sem alma
e chorava
e de tão cheia
de mim, de vida
de tão cheia
eu era vazia
e me restava dor
então eu chorava
e chorar foi um verbo praticado em demasia

olhar o céu era sentir dor e pensar que eu estava longe
oceanos, continentes, vidas, vontades
e a amarga impotência
que foi curada - não sei se pelo tempo
ou pelo conformismo agudo
e aquele sentimento podre
de
meu deus
nada posso fazer
nada irei

e essa vontade de escrever tudo sem letra maiúscula -
vício adquirido
e necessário

a desmemória vem
envelhecemos
e tudo parece curado
ou tapado
com a peneira, obviamente

porque dor se cura - sim
cura
mas quando a gente lembra
dói de novo
fica ali o hematoma

o inegável

hematoma.

mas pessoas vem
tomam lugares
preenchem espaços
nos fazem acreditar
no amor
esse sentimento tão louco
e temido
por mim, ao menos

não sei se tenho medo do amor
ou dele ser efêmero
aqui nesse coração
gelado, às vezes
caótico confuso psicopata
louco na maior parte do tempo

deixo a vida consertar os erros
porque eu não sei me consertar
coloco no piloto automático e vou

voando
até o lugar mais desconhecido e improvável

vida: o grande vôo

mas tem hora que as asas parecem tão pequenas
e fracas
o coração aperta
vontade chorar
de medo
de pavor de tudo
das pessoas
e conversas
situações que nunca serão dominadas

um gole de água
um trago

não gosto dessa sensação de ter que acordar em pouco tempo
sono eterno que nunca existe
aliás
fúnebre escrever isso
mas sono eterno é morte

milagre
milagre, cara
estarmos vivos
escrevendo nas nossas páginas

de forma torta
a letra feia
sem saber quem vai ler

ai, metáforas
exemplos
idiotas

no me gusta

mas ah, você
seu sorriso
ah, você

a esperança de um dia
alguma coisa
já não me lembro a frase que ela disse
tinha a ver com samba
tinha a ver com tristeza
tinha a ver com esperança

não lembro.

que louco tudo
e pouco
e muito
indo

e a vida
de quem não te ama mais
my sis
não
deixa viver
já foi

destruir o efeito alheio
a brisa boa
no me gusta

sua dor deve ser
daquelas que eu falei ali em cima
hematoma
curou, mas ainda tá roxo

percebi, se assim posso dizer
seu talento
belo - sim
então voa

cara,
voa

porque vôos passados
se não foram fotografados, estão na memória ainda
e na memória
deixar sempre as coisas boas

as ruins
deletadas
lixeira

esvaziar
a lixeira

hd livre para novas fotos
e vôos
novas linhas aéreas

oceanos
continentes
novos

unknown sister
yeah, you.

porque eu sou feminista chata
e a palavra que liga nós, mulheres
união
sempre

no matter what.

voar até o céu
e cair de cara no chão - também
o importante é a altura
o êxtase ali
do amor
e da loucura

que lindo chegar tão longe

e é como ver um filme ótimo
com um final cretino de merda
na mente, eu deleto a cena final
corto - lixeira
deixo só as cenas
do filme
as belas

os momentos sujos
e apelativos demais

eu deixo no compartimento marginal do cérebro

daí os textos
daí as pirações
daí os dias de "tá vindo, tá vindo"

aí escrevo
tudo vomitado
e morre
por um tempo

as drogas
as bads
as viagens
às vezes incomodam e tento pensar que não vivi
que não foi bom
que me fez mal
físico
mental
porque me fez surtar demais
fui o que não sou

e até as boas viagens
aquelas de
japonês em cima de touro mecânico flutuando no espaço
as bizarras
e engraçadas

tem hora que não me faz bem lembrar
eu deleto

tanta gente ruim que já me apareceu na vida
deletei
me afastei

não faz bem?
me afasto

já se afastaram de mim também
doeu?
doeu

doeu demais?

doeu.

e se doeu demais
me afastei também

e fim.

reciclagem de pessoas
amigos
amores
opções
dores
escritores

o tempo todo.

metamorfoses

ótimo ter opiniões diferentes
contradições?

gosto.

não leio mais fernando sabino
nem virginia
nem clarice

faz tempo

me afastei porque cansou
são ótimos

mas tudo muda na vida

bater na mesma tecla o tempo todo cansa
mesmo se é essa tecla que faz gozar
todas as noites
ouvir o mesmo disco
aquele ótimo

também cansa.

e cansado agora
só o mundo
só essa cidade cinza e suja
reduto do caos
das putas e dos loucos
dos boyzinhos
dos que escrevem enquanto o céu clareia lá fora
e eu aqui - divago

cansado agora
só meu corpo
que vai dormir
pra viver o resto de vida que me aguarda

quando eu acordar.

4 comentários:

Paula Macedo disse...

é a tristeza que tem a esperança
de um dia não ser mais triste

LéoFreitas disse...

cada milésimo de segundo é um momento de mudança.

Unknown disse...

acredito que toda dor é parte do autoconhecimento. e mudança é evolução. deve ser o preço que se paga por enxergar o mundo que ninguém vê, mas depois disso, certamente, desfrutaremos cada segundo de nossas vidas como se fosse o último. isso é que separa as pessoas incríveis das medíocres e hipócritas.
crescer na solidão do autoconflito. acredito muito nisso.


my sis. my sis. yeah, my sis. yeah.yeah.yeah.
(L)uv u

vanessinha.

Anne Galvão disse...

gostoso de ler, linda. :)