10 julho 2007

meddley do amor e caos

meu caro,
a vida são tantas vidas quanto quiser seja a sua alma, e lhe digo sem pudor de felicidades gratuitas que a existência pode sim ser muito intensa e ao mesmo tempo, branca e leve.
e o cenário se tornou uma memória errada e torta, ao menos a cidade à minha volta, faltaram-me opções que não ansiosa uma fuga desenfreada
dei sinal o mundo parou e eu desci.
segundos de tropeço e terror os que afligem aos seres de bem que se entregam, se jogam, que doam a alma uma fita em um laço vermelho, tó. meu coração. faz miséria,
fomos pra praia.
eu mais pessoas queridíssimas mais praia igual a suspiros-do-incompreensível-querendo-ser-racional
(e por sinal
já percebeste como tudo hoje se resume a explicações? de um lado pessoas buscando justificativas para o tudo, para o nada, racionalismo overdósico dos que não sentam junto do inexplicável no coletivo porque o temem, sentem nojo, do outro lado gente buscando ir além da capacidade de compreensão alheia em todo e cada um dos próprios atos, premeditados ou não nada importa, chamo-os non-sense junkies. gente que não vai pedir um sorvete de flocos, por mais que queira. porque ah, o sorvete tem que ser inexplicável)
a metrópole me encanta, claro que sim. em suas pressas suas luzes de neon e sombras cruas, cada esquina um mistério sutil escancarado como a morte e seu sorriso certamente encantador
mas nada iguala ver aos olhos de alma-irmã pedaços frágeis de xiita honestidade que só poderia mesmo vir à tona sobre o lençol aberto na areia, sob o teto de estrelas as brilhantes as geométricas a vermelha as que se mexem (aviões, rafa...) as cadentes
decadente o sol poente que se foi deixou a lua no lugar, e a lua nasce ao fim do mar à nossa esquerda extrema e cresce cheia à madrugada e te ilumina em amarelo-histérico e inesperado um ângulo inédito o seu sorriso desavisado olhos fechados boca seca cabelos ao vento da noite fora do tempo e a expressão curiosa de criança que tens quando se esquece de ser incrivelmente incrível e acredite é nessas horas que és de fato fenomenal imagens ricas luaminadas em cortes neo-concretistas
e eu te amo.
(explique isso. hun.)
o fato é que gosto de praias.
uma questão muito mais arquitetônica do que neo-hippie caiçara: além da quebração não se vêem arranha-céus a macular o horizonte. são tudo cores, cheiros, brisas. temperatura que muda a cor da água. partículas na atmosfera que concentradas alteram a cor do céu. que não tem sinônimos ou rivais. céu que pinta o mar, que termina no céu, lá bem longe, quase na África, depois da inclinação, depois do púrpura. depois de onde o olhar subversivo alcança
e eu preciso lhe dizer que essas coisas não têm limites não têm holerites não têm caixa d’água vazia ou conta de luz atrasada e não fazem greve, e ainda por cima minha gente, versifico aqui e agora uma homenagem ao céu-de-praia, figura ilustre e recorrente na poesia tropicalista secular a inspirar minhas doces lágrimas de sal e amor.
eu que não sou da natureza e que respiro o dióxido de carbono dos escapamentos e me alimento de urbanices na augusta e acho tudo isso fino e chique e vejo muito mais pores-do-sol na imagem tecnocrata de uma tela de computador do que honesto e quente um vislumbrar e de jardins e plantas nada sei além de mirabolices invencionistas e ideológicas do cultivo familiar da cannabis
eu que sempre precisei me perder para me encontrar.
quanto mais distante e confuso, melhor.
esbórnia? auto-destruição? cérebro na brita descendo a ladeira quicando na sarjeta?
acho unânime.
the road of destruction leads to the palace of wisdom, ou então alguém avisa o William Blake
que é do caos que nasce o germe a toda e qualquer salvação,
a epifania. foi bom pra você?
pra mim foi. ótimo.
epifania,
a nível de transe vamos estar jogando a dignidade no bueiro do pântano.
porque na praia fica tudo mais nítido.
coqueiros são coqueiros
nativos, lentos sinuosos passos tortos
meias-verdades sempre joguetes de quem não querendo ser cruel acabou covarde
mestre-sala, porta-bandeira
a resistência rebelde em um carnaval particular ali na areia. em julho. foda-se. a praia não é minha, mas também não é sua, e assim, meu cu pras tuas regras. machistas, coloniais. homofóbicas. atrasadas.
nós quatro na areia, um instantâneo na mente
à prova de lobotomias, por supuesto.
eu digo sim a cada vez que me pergunta do sorriso. digo sim e sorrio. porque é por aí mesmo. quando eu não quiser sorrir, linda, não se preocupe, não me farei de rogado ou de carneiro do rebanho de deus
(ou de jah?)
da confiança que me deste não farei a kátia cega.
influenciável. gay friendly. meio lésbico, segundo dizem. emotivo. quase sempre por demais calado, no resto do tempo insuportavelmente palestrante do caos. certamente fora de controle, fora do chão. cansado da vida dura proletário-frustrada dos que ganham o pão querendo destruí-lo e ansioso pela eterna sexta-feira
mas sentado na areia, lhe digo assim grave, enxergo nítida uma força que é maior do que eu, é maior do que nós. bem maior do que todos e quaisquer meticulosos pormenores de dor
uma verdade
.
fico por aqui. prezado.
se houvesse uma receita, incluiria um violão algumas brejas vick em tubo um lençol cigarros mdma estrelas sombras vultos a correr e brincar no parquinho como crianças lesadas
multicolor junkie kids
pontoedu
mas não há uma receita. há que inventa-la, a cada dia, a cada hora, a cada silenciosa confissão
a vida é rica por demais.


envelhecerei na praia.
qualquer praia.
preguiçosas caminhadas na manhã e agradecida uma honraria ao pôr-do-sol,
vê se aparece.

3 comentários:

débora lopes disse...

Viagem, viagens e pessoas de bom coração proporcionando um ar quase hippie ao ambiente. Paz gratuita forçando a vida a fazer sentido e dá até tontura: Deus, estou viva e sim, isso é real.

Loucura lisérgica na mente sóbria e virgem de substâncias ilícitas desconhecidas.

Anônimo disse...

mexem

george jung disse...

verdade. valeu.