29 agosto 2007

- Um beck rendeu três fumada.
- Anh?

E eu, bem bêbada e um pouco surda, não entendia porra nenhuma que a pessoa X a quem (desacreditada, mal-falada e solteira) convidei para uma cerveja num dia solitário de merda dizia. Frequentadores inconsequentes de boteco me compreenderiam. Ou se fossem eles os julgadores de quem entra no céu ou não, talvez eu, d.l., uma chance. Do céu. Eu teria. Talvez. Escolher entre calor vermelho turvo pecadores condenados e o prazer limpo branco virgem Sandy do céu, eu talvez fosse hipócrita. Porque eu quero o céu (o teu). E eu quero uma chance. É nisso que o meu discurso foca: uma chance. Será, então, que os mil homens suados e enjaulados cogitam essa hipótese? Uma chance. Estuprador merece chance? E homicida? E se você trair o amor da sua vida? E quem roubou vinho no mercado? E vendeu o pel por quinze e não por dez? São muitas almas e muitos pedidos de céu; sede. Deus completamente enlouquecido e descabelado em sua mesa, respondendo e-mails, scraps e carimbando autorizações pro céu. E dentre os papéis, um rótulo de cerveja amassado escrito: uma chance, por favor. E na assinatura: d.l.

Time may change me. But I can't trace time.

E quando eu errei, eu clamei a seja lá o que for. Qualquer força maior. Porque se chove, alguém decide que a água tem que cair. Deus, natureza, Jah, Bush. Não sei quem é. E eu pedi. Talvez bêbada, de joelhos, com a cara salgada de tanto chorar - mas eu pedi. Me dá uma chance só. E nada aconteceu. Silêncio. E depois a consequência dos meus atos rindo diabolicamente com o dedo na minha cara. Daí eu parei de querer. Eu parei de desejar. Parei de trepar.

Esqueceram de mim. Um. Dois. Três. Até o final de Party Monster, esqueceram de mim. Despirocation foi a única solução temporária viável. Pulei na piscina cuja placa ESBÓRNIA mostrava uma seta para baixo. Beijo, me visitem na cadeia que me entreguei ao crime. E como boa augustiniana, fiquei em meu lugar de origem. Aquele que começa com bo e termina com teco. Nos dois - pra não mentir. Na junção das letras e nas duas sílabas finais. Fiquei.

Bowie, cerveja, galáxias. Estoy sola pero no estoy muerta. Deja-me.

Daí veio. Numa noite. A chance. Na Augusta. E sentou do meu lado no boteco. Beat. Heat. Sentou do meu lado. Poesia subversiva rock n' roll. E naquele minuto, naquele segundo, naquela noite, eu já sabia. Sabia. Que eu ia. Visceralmente.

5 comentários:

oi disse...

é como faltar fôlego ler textos assim, ardil, simples. sem regra. ar marginal. Encanta.


Belo texto!

Anne Galvão disse...

:)~~

Felipe da Fonseca disse...

.lerei quantas carreiras você bater. nota eu não tenho(e que são notas, senão a inteligência ostensiva ou a burrice transbordada)...

Unknown disse...

MARAVILHOSO.

MANO DO CÉU!


vanessinha.

Anônimo disse...

muito bom