29 agosto 2007

Um corredor de um local até, anteriormente, desconhecido por mim. Entrei pelo misterioso e me senti em casa.
Entre portas fechadas com uma pequena vidraça em cada uma delas, as caracterizavam como salas de aula. O silêncio impera. Ué, mas aqui não é o setor de música? - pensei alto.
De bloquinho de anotações nas mãos e mochila pesada balançando com garrafa d´água nas costas, eu andei procurando por entre frestas pelas pessoas a serem entrevistadas. Sento no banco de forma desengonçada e ouço um violino. A sala acústica não impede que ele venha até mim. Sinto como se o violino estivesse dançando dentro de mim, como se o instrumento fosse parte de meu corpo, assim como os músicos se sentem com seu instrumento.
Sigo o som. Parece que as notas musicais flutuam entre mim e o tocador. Do vidro, eu observo como se fosse proibido a moça de tranças caídas num ombro. Ela poderia me ver e parar de tocar. Ou pior: ela tocar me vendo ali, mudando sua forma de expressão espiritual musical. Ninguém gosta de ser visto enquanto reza.
Mas ela não enxergou. Estava de olhos cerrados, de forma singela, movendo, ritmadamente, o corpo esguio de pé na sala vazia cheia de som.
O toque de um piano me faz olhar para trás e buscar a continuidade daquela melodia. Não descarto o violino, até porque a simbiose existiu. O sincronia de ambos os sons me surpreende. Penso encontrar a mesma moça de tranças a quatro braços tocando o piano e o violino, simultaneamente. Mas na sala de número par, encontro um jovem de talento ímpar. Dedilha sobre as teclas de marfim com uma delicadeza brutal. Digo jovem pois ali me senti um idoso, perdendo meu tempo e disposição em aprender a tocar música para tocar. Músicas que tocam, cantos que encantam. Me senti um profundo conhecedor da música erudita. Sabemos que acreditamos conhecer aquilo que nos agrada e foi ali que eu fiquei, entre o violino e o piano, me sentindo rodar, interagindo com as notas musicais que bailavam ao meu redor.

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