Fuma o mesmo cigarro desde o primeiro dia que botou um na boca. Tem medo de mudar pra outro, chegar no homem do bar e falar: me dá aquele outro hoje. Me chama de meu camarada, meu camarada, mas não sou camarada porra nenhuma - nem camarada, nem meu, nem tua. Visto que implantei a regra filosófica de nunca pertencer. Já não bastam as ruas todas com nome de pássaros: bem-te-vi, rouxinol. E outros. Animais. Com asas. Animais. Imbecis. Tão bom te xingar: animal. Deixo a raiva diluída no copo - talvez por isso o silêncio. Está bem? Estou. Só não quero falar agora. E dos plurais que nunca falei. Havia, haviam. Estude primeiro a composição. Lembrei até do dia que ela (uma ela qualquer) me contou que o professor queria mostrar aos alunos, espermatozóides vivos. Um dos garotos da sala foi ao banheiro, bateu uma e deu a porra pro professor, que por sua vez, botou a porra no microscópio e a classe, admirada, observou. Divago, daí, que se cada um usasse um por cento de ousadia por dia, o mundo seria outro. Porque às vezes é a porra que faz a diferença. Meu camarada.
3 comentários:
percebo uma sutil influência estilística?...
ousemos!
meu camarada? meu cu!
a ousadia é a catarse de um mundo que se esconde.
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