21 agosto 2007

O ímpeto alucinante

Queria o mais. Ele queria, eu não.
Eu queria o embate do mais com o tudo.
Aquela fração de segundo do orgasmo quando você sente as pernas moles, o coração saindo pela boca, a suadeira do calor que arrepia e a perda do encontro daquilo que dois corpos sentem numa simbiose da aprendizagem da volúpia.
O ser humano jamais deveria querer nascer, deveria sim é querer explodir e sair pulando do útero, como que uma rajada de balas perdidas, achadas, inconscientes. E assim, de forma repente, atingir o outro.
Afinal, alguém discorda que estamos aqui além do que, se não para tocar ao outro?
Tocar com amor, com ódio, com paixão, com carinho, com força, com o inesperado.
O esperado estraga a surpresa.
Quereria eu que o mundo fosse aquilo que não queremos dele. Porque quando atingimos aquilo que queremos, perde-se sua graça em surpreender.
Então aquilo que quero jamais vai me sublimar? Minha plenitude jamais virá daquilo que quero , pois quero mais o querer em si do que querer o objeto da minha obsessão.
Estaria eu, então, preparando-me para querer aquilo que nem sei, aquilo que desprezo, aquilo que finjo não existir porque me envergonha?
Perguntas! Perguntas!
Perguntas? O que me perguntas? Não entendi. Não quero entender. Ou quero? Quero! Quero entender perguntas, quero querer respostas, mas não quero que perguntas e respostas andem juntas. Se assim fosse, aonde estaria a esplêndida busca esmiuçada a dedos com unhas sujas que arrancam da terra aquilo que jaz morto ou está enterrado vivo?
Enterra-se um segredo? Jamais.
Desenterra-se uma dor? Sempre.
O embate de uma fração de fração de um milésimo de fração de segundo é o que me faz desejar. Cabe naquilo que chamamos de espaço interno, pois me sinto grande. Estaria eu crescendo ou estariam os enigmas diminuindo?
Não quero o cotidiano diário de cada dia, onde buscamos como formigas no inverno e no verão para termos estoque de vida morta pra uma eternidade finita.
Quero a cerveja no bar, a balada libidinosa, o amor sincero e as mentiras meias-verdades.
O sorriso de olhos fechados que não vão lhe entregar, o cigarro virando cinza, o som do piano e o toque da sua mão.
Quero cada partícula ínfima que junto de partículas ínfimas formam tudo aquilo que existe e não existe.
O fim basta para dizer que deve-se dar valor ao início, aos meios, mesmo que tais meios sejam usados de formas consideradas vãs ou vis.
Vai-se, vem-se, se vai, se vê, vence, se vence, se vencesse ganharia o reino das terras?
Porque o reino dos céus não é para mim. Meu corpo carnicento pesado afundaria por entre nuvens d´água e eu cairia sobre terras ou sobre mares. Morreria afogado, pois no contato com o mar acreditaria que sei nadar. Qual a graça de aprender a nadar pra depois cair em águas tormentosas? Faria de mim um exímio nadador em situações limites, nadaria em locais antes mesmo de aprender a nadar.
A sobrevivência é que, lentamente, vai me matando.
Aprende-se a chorar sorrindo.
A gozar sofrendo.
A fingir doendo.
Vive-se, Sobrevive-se, Sub-vive-se.
Intromete-se, Submete-se, Mete-se.
Fala-se, Falha-se, Faz-se.
Muda-se, Molda-se, Emudece-se.
São vários -ses complementados pelo fino, transparente e degradável ser-se da vida.
Ser-se dói e não ser-se dá paz. Porque quando não se é, não se sente.
Não se sente um amor quando seu coração petrificou-se no cinzento mundo dos imperdoáveis.
Não se faz amor quando seu lado tem medo de olhar aquilo que ficou para trás e que sabe que está à espreita.
O que nos fortalece tem o mesmo poder de nos derrubar, pois conhece nosso segredo de força cósmica.
Sei que estou transitando entre o "eu" e o "nós", mas é um o complemento do outro.
Nós são apenas versões apertadas de eu mais um. Eu mais você. Eu mais nós. EU mais Eu.
É como se eu me dividisse em dois; e Eu dissesse a EU:
Você está feliz?
e EU respondesse
EU estou; mas Eu estou feliz?
Ser um EU ou um Eu ou ambos, nada disso difere em nada.
Porque Eu queria ser EU, mas EU não quereria ser Eu.
EU querendo ser aquilo que ainda não sei, que talvez seja Eu mesmo.
Aquele Eu ali, escondidindo, junto do eu.
Mas nem EU sei.
Nem Eu.
e nem eu.

Um comentário:

Anônimo disse...

esse é o melhor texto que você já escreveu, quer dizer, que eu li. sim,me ajudou. te amo e te cuido, sempre
beijos meu Rei